Pages

segunda-feira, 7 de julho de 2014

TEMA: A INVERSÃO DA CONVERSÃO
TEXTO: Atos 2. 41-42
INTRODUÇÃO
Os Guinness, um dos profetas da modernidade, escreveram no início da década de oitenta um artigo intitulado Cuidado com a jiboia. Neste artigo, ele comenta os perigos e desafios da modernidade para a fé cristã, e compara estes perigos ao abraço da jiboia que mata suas vítimas estrangulando-as devagar, sem nenhuma pressa. Para ele, a modernidade vem fazendo com o cristianismo aquilo que Nero, Dioclesiano e outros tentaram fazer através da violência e perseguição e não conseguiram. A modernidade vem lentamente estrangulando a fé e o espírito cristão sem que a cristandade se dê conta do abraço da jiboia e apresente qualquer resistência.
Um dos fenômenos modernos que vem me chamando a atenção é o do velho tema da conversão. No passado, a experiência da conversão era caracterizado por uma reforma radical da vida. O convertido era alguém que renunciava o pecado, o mundo e a carne para viver para Cristo, obedecendo a sua Palavra, buscando fazer a sua vontade, negando a si mesmo e se afirmando pela fé em Cristo. Éramos convertidos a Cristo. Na linguagem de Isaías, esta conversão envolvia uma transformação dos nossos caminhos e pensamentos, levando-nos a considerar como superiores e melhores os caminhos e os pensamentos de Deus.


1)  Conversão não é mudar de igreja, denominação ou religião; é mudar de caminho!

A modernidade vem lentamente mudando este conceito. Eu diria que hoje, o fenômeno mais comum que observo em muitos testemunhos cristãos, não é mais o de nossa conversão a Cristo mas a conversão de Cristo a nós. Digo isto porque o que normalmente ouvimos, nos relatos das experiências de muitos cristãos modernos, são histórias das ações de Deus em suas vidas resolvendo seus problemas, curando suas enfermidades, livrando-os do mal e dos perigos, abrindo portas para novas oportunidades, abençoando seus planos e projetos. Obviamente isto não tem nada de mais, é a expressão mais legítima da presença cuidadosa de Deus em nossas vidas. No entanto, quando tornamo-nos o centro das ações de Deus e julgamos que sua existência só é justificada pelos benefícios que recebemos dele, invertemos a ordem da conversão e, ao invés de sermos convertidos a Cristo, é ele quem se converte a nós, transformando-se numa espécie de "grande mágico" ocupado em tornar nossa vida melhor e mais agradável.
Por outro lado, me chama também a atenção a ausência cada vez maior de testemunhos que expressem as mudanças e transformações da vida e do caráter, que demonstrem a disposição do coração e da alma humana em se deixar moldar pela natureza divina, testemunhos que apontem para uma conversão de nós a Cristo. Somos pecadores, a queda maculou a imagem de Deus em nós, nosso caráter foi corrompido e nos tornamos, por natureza, "filhos da desobediência", rebeldes e egoístas, sem um referencial externo que nos apontasse o caminho de volta para Deus e para a reconstrução da "Imago Dei".

2) Conversão não implica estabelecer propósitos pessoais, mas sim em voltar ao propósito original do Criador!

Jesus Cristo, o varão perfeito, o Filho do homem, que manifestou através da encarnação a mais plena e completa humanidade, viveu entre nós para ser o caminho que nos leva de volta ao propósito do Criador, o referencial que precisamos. A conversão, ou numa expressão mais comum entre nós, o "aceitar a Cristo", significa permitir que a vida de Cristo seja agora, pelo poder do seu Espírito, vivida por nós, convertendo-nos e transformando-nos em criaturas novas a fim de afirmarmos como o apóstolo Paulo: "Não mais eu, mas Cristo vive em mim".
Esta afirmação não significa que Paulo havia perdido sua identidade própria, passando a ser uma espécie de marionete ou "zumbi" religioso. O que ele afirma é que foi convertido a Cristo, sua vida foi transformada por Cristo, seus desejos, emoções e vontade, foram e estavam sendo reordenados aos propósitos do Criador. Paulo não estava preocupado se Cristo iria atender todas as demandas de sua vida e ministério, satisfazer suas necessidades ou atender suas exigências pessoais. Paulo estava interessado naquilo que Cristo estava fazendo em sua vida, nas mudanças que o Evangelho havia realizado em seu coração e alma. Paulo mantinha seu olhar sempre fixo em Cristo, deixando para trás tudo aquilo que o mantinha preso no seu passado para experimentar, dia após dia, o poder da ressurreição que fazia dele um novo homem.
A conversão de Cristo a nós é perigosa. É uma inversão que nos coloca numa situação de enorme risco. No salmo 106 há uma advertência contra isto. O povo de Israel foi grandemente abençoado por Deus que os libertou do Egito e dos seus opressores. No entanto, logo se esqueceram de tudo o que Deus lhes havia feito e se entregaram a suas paixões, fazendo o que desejavam. Em meio a esta busca de sua própria realização, lutando pelo seu "direito de ser feliz", fizeram suas orações pedindo para que Deus abençoasse seus desejos desordenados e seus caminhos falsos. Diante disto, o salmista afirma que "Deus lhes concedeu o que pediram, mas fez definhar-lhes a alma". As consequências de uma conversão de Cristo a nós podem nos levar ao abismo mais profundo do egoísmo humano e nos afastar da vida liberta e verdadeiramente humana que Cristo nos oferece.

3) Conversão não significa mudar quem Deus é; Conversão é mudar quem nós somos.

A conversão nunca é o processo de transformar Cristo numa espécie de "gênio da lâmpada", que existe apenas para atender nossas demandas e necessidades. Este caminho inverso pode parecer fascinante, nos dá a sensação de ter à nossa disposição alguém forte e poderoso para nos defender, atender aos nossos interesses, satisfazer nossos desejos e alimentar nosso ego insatisfeito e frustrado. Não nego o amor de Deus e seu desejo enorme de nos abençoar, mas o caminho da conversão continua sendo o da nossa transformação em Cristo, da reconciliação com Deus, da renúncia ao pecado, da sujeição ao senhorio de Cristo, da obediência à sua Palavra e da santidade do caráter. É a transformação da nossa natureza caída na imagem de Deus, é ser cada dia mais parecido com Jesus.
A advertência de Os Guinness é real. A jibóia está aí estrangulando os cristãos, lenta e silenciosamente. A busca pela auto-realização, o narcisismo religioso, a sedução da propaganda, têm invertido o conceito da experiência mais primária da fé cristã. Se começamos pelo caminho inverso, correremos o risco de ver nossa alma definhada. Cuidado com a jibóia. Amem.
Pr. Luiz Fernando Massunaga

Comunidade Bíblica adoração, Bauru, 06 de Julho de 2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário